quarta-feira, 29 de julho de 2009

Função do olhar,

nessas nuvens e nesses arcos-íris, nessas grutas, ravinas e arvoredos, pintados em grande número por volta de 1800: se a visada é uma reprodução escrupulosa do mundo natural como teatro de fenômenos efêmeros, precisa-se aí de uma acuidade do olhar, mas também de um desejo de investigação e de descoberta. Olhar a natureza "tal como ela é", isso se aprende. A questão não é a de uma objetividade qualquer: nada mais irreal, em certo sentido, do que os arcos-íris de Constable, as nuvens de Dahl ou Delacroix, para não falar de Turner. Mas, nesse esforço para apreender, a um só tempo, o momento que foge e compreendê-lo como momento fugidio e qualquer - para se livrar do "instante pregnante"-, o que se constitui é o ver: uma confiança nova dada à visão como instrumento de conhecimento, e por que não de ciência. Aprender olhando, aprender a olhar: é o tema, também gombrichiano, da "descoberta visual por meio da arte", da similitude entre ver e compreender. O tema do conhecimento pelas aparências, que é o tema do século XIX, e o do cinema.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.51





CONSTABLE, John
The Hay-Wain
1821

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