quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mas o essencial,

é claro, é que o trem continua a ser o lugar prototípico onde se elabora, em pleno século XIX, o espectador de massa, o viajante imóvel. Sentado, passivo, transportado, o passageiro de trem aprende depressa a olhar desfilar um espetáculo enquadrado, a paisagem atravessada. A experiência das primeiras viagens de trem é suficientemente nova quando aparece o cinema para que, por exemplo, a descrição da experiência espectatorial no famoso livro de Hugo Münsterberg, em 1916, evoque, infalivelmente, os testemunhos de viajantes do século XIX. A similitude, no mais das vezes realçadas. vai bem longe: trem e cinema transportam o sujeito para a ficção, para o imaginário, para o sonho e também para outro espaço onde as inibições são parcialmente sanadas.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.53




TURNER, Joseph Mallord William
Rain, Steam and Speed The Great Western Railway
before 1844

Função do olhar,

nessas nuvens e nesses arcos-íris, nessas grutas, ravinas e arvoredos, pintados em grande número por volta de 1800: se a visada é uma reprodução escrupulosa do mundo natural como teatro de fenômenos efêmeros, precisa-se aí de uma acuidade do olhar, mas também de um desejo de investigação e de descoberta. Olhar a natureza "tal como ela é", isso se aprende. A questão não é a de uma objetividade qualquer: nada mais irreal, em certo sentido, do que os arcos-íris de Constable, as nuvens de Dahl ou Delacroix, para não falar de Turner. Mas, nesse esforço para apreender, a um só tempo, o momento que foge e compreendê-lo como momento fugidio e qualquer - para se livrar do "instante pregnante"-, o que se constitui é o ver: uma confiança nova dada à visão como instrumento de conhecimento, e por que não de ciência. Aprender olhando, aprender a olhar: é o tema, também gombrichiano, da "descoberta visual por meio da arte", da similitude entre ver e compreender. O tema do conhecimento pelas aparências, que é o tema do século XIX, e o do cinema.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.51





CONSTABLE, John
The Hay-Wain
1821

terça-feira, 28 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sonhos



Imagem sonho já que a palavra não é suficiente.
Quando não temos pra onde ir.
Quando a existência é insondável.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Tudo o que amo

Que triste sorte para um pintor que gosta das loiras, mas que se proíbe de colocá-las em seu quadro porque não se harmonizam com o tapete! Que miséria, para um pintor que detesta as maçãs, ser obrigado a utilizá-las o tempo todo, porque se harmonizam com o tapete! Coloco nos meus quadros tudo o que amo. Tanto pior para as coisas; tudo o que elas têm a fazer é arranjar-se entre si. (Picasso, 1935)




Picasso, Girl asleep at a table, 1936