segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Cette vie

est un hôpital où chaque malade est possédé du désir de changer de lit. Celui-ci voudrait souffrir en face du poêle, et celui-là croit qu'il guérirait à côté de la fenêtre.


Baudelaire













(Foto: http://www.flickr.com/photos/nounou12/2105470266/)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava escrito:

Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.

Manoel de Barros, 1993.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Noções

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se
encontram.


Cecília Meireles

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A palavra

é uma asa do silêncio
o fogo tem sua metade fria.


Pablo Neruda

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"...nosso único vínculo"

O fato moderno é que já não acreditamos neste mundo. Nem mesmo nos acontecimentos que nos acontecem, o amor, a morte, como se nos dissessem respeito apenas pela metade. Não somos nós que fazemos cinema, é o mundo que nos aparece como um filme ruim. A propósito de Bande à part, Godard dizia "São as pessoas que são reais, e é o mundo que se isola. É o mundo que se fez cinema. É o mundo que não está sincronizado - elas são justas, verdadeiras, representam a vida. Vivem uma história simples, é o mundo em volta delas que vive um roteiro ruim". É o vínculo do homem com o mundo que se rompeu. Por isso, é o vínculo que deve se tornar objeto de crença: ele é o impossível, que só pode ser restituído por uma fé. A crença não se dirige mais a outro mundo, ou ao mundo transformado. O homem está no mundo como numa situação ótica e sonora pura. A reação da qual o homem está privado só pode ser substituída pela crença. Somente a crença no mundo pode religar o homem com o que ele vê e ouve. É preciso que o cinema filme, não o mundo, mas a crença neste mundo, nosso único vínculo.


G. Deleuze, A imagem-tempo (O pensamento e o cinema, p. 207)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sou fã desse Bobo da corte

Quem cuida mais do dedão
Do que do seu coração
Não dormirá mais, traído
Por um calo dolorido

[Bobo do Rei Lear - Tradução de Millôr Fernandes]

Ainda em O Rei Lear...
Somos para os deuses o que as moscas são para os meninos: matam-nos só por brincadeira.

[Gloucester, ato IV]

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Atteindre son idéal, c’est le dépasser du même coup.



Friedrich Nietzsche

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Caligrafia...

Ao escrever sobre os desenhos de Rodin, Camille Mauclair indicou uma explicação para esta busca:

Os maiores artistas, Michelangelo, Rembrandt, Delacroix, todos, num determinado momento do florescimento de seu gênio, abandonaram a falácia da exatidão, como concebida por nossa razão simplificadora e nossos olhos medíocres, com o objetivo de conseguir fixar idéias, a síntese, a caligrafia pictórica de seus sonhos.



[In: A forma do filme, Eisenstein, 1929]





Auguste Rodin
Celle qui fut la belle heaulmiere
c. 1880-85
Bronze

_________________

Adoecer de nós a natureza:
- Botar aflição nas pedras
(Como fez Rodin).

Manoel de Barros

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A vida é uma ópera e uma grande ópera

Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma ópera como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou:

- A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presençca do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muito bailados, e a orquestração é excelente...


Dom Casmurro

Je veux voyager...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eu também me pergunto

o que pode haver de tão interessante no chão.

sábado, 19 de setembro de 2009

Discordo

completamente de você, Fabiane.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Macbeth

O amanhã, o amanhã, o amanhã, avança em pequenos passos, de dia para dia, até a última sílaba da recordação e todos os nossos ontens iluminaram para os loucos o caminho da poeira da morte. Apaga-te, apaga-te fugaz tocha! A vida nada mais é do que uma sombra que passa, um pobre histrião que se pavoneia e se agita uma hora em cena e, depois, nada mais se ouve dele. É uma história contada por um idiota, cheia de fúria e tumulto, nada significando.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

France Tour Detour Deux Enfants





Find the river



me, my thoughts are flower strewn
ocean storm, bayberry moon
I have got to leave to find my way
watch the road and memorize
this life that pass before my eyes
nothing is going my way




[R.E.M.]
[Paranoid Park, 2007]

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Para lá

Se toda escada esconde
Uma rampa
Ampara o horizonte
Uma ponte
Para o oriente
Um olhar
Distante

Em volta de um assunto
Uma lente
Depois de cada luz
Um poente
Para cada ponto
Um olhar
Rente

E a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá
Parada
Parada

Diante do infinito
Um mosquito
Em torno de um contorno
Gigante
Cada eco leva
Uma voz
Adiante

Decanta em cada canto
Um instante
De dentro do segundo
Seguinte
Que só por um momento
Será
Antes

E a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá
Parada
Parada

[música Adriana Calcanhotto, letra Arnaldo Antunes]



[Cézanne, The Lake at Annecy, 1896]

Para Merleau-Ponty, Cézanne foi aquele que primeiro mostrou o mundo tal como ele é antes de ser olhado.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.208

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Picasso e os tempos

Pablo Picasso e Georges Braque são considerados os fundadores do movimento cubista. Curiosamente, desse movimento, os dois foram praticamente os únicos artistas que, na época, não procuraram explicar o cubismo - ambos não fizeram declarações escritas nos anos anteriores à guerra. Sendo assim, as poucas declarações de Picasso que tiveram início em 1923 estão distanciadas temporalmente daquele 1907, ano de Les Demoiselles d’Avignon, que marcaria o início do cubismo. Os textos de Picasso não dizem respeito a processos de obras específicas, são antes considerações sobre a relação entre sua vida e a arte, reflexões sobre as formas, o cubismo, a crítica, a recepção.

Para Picasso, o pecado mais falso que foi acusado de cometer é o do espírito da pesquisa. Muitos textos sobre Picasso (e sobre o cubismo) fazem referência à pesquisa: o crítico André Salmon em 1912, a respeito de Les Demoiselles d’Avignon, afirma que o quadro é a primeira aplicação das pesquisas de Picasso, que levaram longos dias e muitas noites, desenhando e concretizando o abstrato e reduzindo o concreto ao essencial (aqui a arte dos negros já fascinara Picasso e o influenciara pelo valor de deformação estética, diferente do tradicional). Em 1915, Daniel-Henry Kahnweiler define Picasso como um pesquisador fanático e traça uma trajetória temporal dessas pesquisas que teriam provado para o pintor que a forma fechada não propiciava um meio de expressão que atendesse adequadamente seus anseios. No entanto, Picasso é categórico em sua declaração: quando pinta, seu objetivo é mostrar o que encontrou e não o que está procurando. “Se em seu trabalho ele [o artista] se limitasse a mostrar que pesquisou, e pesquisou novamente, a maneira de apresentar mentiras, jamais realizaria alguma coisa”.

Partindo dessas contradições, é possível compor meios para pensar sobre as declarações de Picasso e sua obra. Primeiramente, quais foram as necessidades desse artista que o levaram a propor uma nova maneira de percepção? Essa busca é uma pesquisa ou, como Picasso afirma, essa busca não é pesquisa nem transição, mas um desejo de exprimir o que estava nele? Picasso também não considera seus diversos métodos empregados em sua arte como “evolução ou como passos na direção de um ideal desconhecido da pintura”. Tudo o que fez, segundo ele, fez para o presente e com a esperança de que continue no presente. Picasso expressa-se em cada pintura de tal modo a considerá-la acabada, pronta para um presente eterno? Também não. Um quadro terminado significa a morte: “acabar com ele, matá-lo, livrar-se de sua alma, dar-lhe o golpe final: uma situação extremamente infeliz, tanto para o pintor como para o quadro”. Sendo assim, como pensar essas obras, sempre no presente, com a fragmentação do olhar por meios da redescoberta de formas que sugerem novas percepções e múltiplas perspectivas em coalescência?

Não é no intuito de compreender que me lanço às perguntas. Picasso mesmo não via sentido no fato de todos quererem compreender a pintura: “Se ao menos compreendessem que o artista trabalha por necessidade, que ele próprio é um ínfimo elemento do mundo, a quem não se deveria atribuir mais importância que a tantas coisas da natureza que nos encantam, mas que não explicamos”. E realmente não é a compreensão ou a explicação que a pintura cubista intui. Mas a estimulação do olhar por meio de formas e objetos, causando uma profundidade que disseca o objeto, o espaço, o ser humano por todos os lados e entranhas e ao mesmo tempo. Essa necessidade de criar formas que constroem uma multiplicidade de estratos é o que conecta Picasso ao tempo. Vai além do presente para o qual ele diz fazer suas obras: ao relacionar o objeto com a percepção e criar no mesmo plano diversos pontos de vista, esses objetos contemplam a noção de temporalidade de Bergson, que propõe a experimentação do tempo em fluxos contínuos - esses fluxos não são apenas sucessões e mudanças, mas permanências no que sucede e transcorre. Para transmitir tanto a noção de duração, quanto a nova percepção colocada pelo cubismo, é preciso considerar as modalidades de tempo – passado, presente e futuro – não cronológica e uniformemente ordenadas, e sim como uma rede que torna os tempos indissociáveis e mesclados uns aos outros. A pintura de Picasso pode estar sempre no presente porque o passado não deixa de ser também presente, como a metáfora do rio no qual entramos e não entramos, estamos e não estamos. A pintura de Picasso pode estar sempre no presente porque torna contínua e simultânea a consciência e a memória. Seria a representação do tempo em fluxo contínuo a necessidade de Picasso, ao desassociar o olhar da “realidade visual” e o introduzir na plasticidade por si só?



1910 é o ano de Garota com Bandolim (Jeune Fille à la Mandoline). Esse ano é marcado na pintura de Picasso pelo rompimento com a forma fechada – “uma nova ferramenta havia sido forjada para servir a uma nova realidade”, escrevera Kahnweiler. A nova realidade não detinha os objetos e os rostos nas suas superfícies, mas permitia que fossem tangíveis à medida que as percepções visuais misturavam-se às percepções táteis conservadas na memória. A revelação das formas (nas partes do corpo, no bandolim, no fundo) incita a amplitude na contemplação, manifestando uma penetração do olhar que não era possível na imitação ilusionista. É por meio desse mecanismo que o tempo se instala, é na ousadia em multiplicar formas e temporalidades que Picasso representa seus instantes eternos.

Ainda sobre lançar-se à compreensão, Picasso escreveu: “Os que tentam explicar um quadro estão quase sempre no mau caminho. Gertrude Stein anunciava-me jubilosamente, há algum tempo, que finalmente compreendera o que representava o meu quadro dos três músicos. Era uma natureza-morta!”. Como seria uma natureza-morta, se, com o uso instável das formas, dá-se justamente o contrário? Era 1910 quando Jean Metzinger escreveu que Picasso “inventou uma perspectiva livre e móvel” e que “a forma, usada durante tantos séculos como o apoio inanimado da cor, recupera finalmente o seu direito à vida e à instabilidade”. É justamente sob a presença da vida que Picasso mantém os olhos – e propõe-se agir com a pintura, exatamente como na vida: “Faço uma janela como olho através de uma janela. Se essa janela aberta não fica bem no meu quadro, puxo uma cortina e a fecho como o teria feito no meu quarto”. Assim, a produção de Picasso segue a mobilidade do pensamento – que o permite, fora da lei acadêmica e do modelo anatômico, criar a liberdade imprevista dos movimentos. Além disso, “depois de terminado ele continua a mudar, conforme o estado daquele que o contempla. Um quadro vive sua vida como um ser vivo, sofre as mudanças que a vida cotidiana nos impõe. Isto é natural, já que um quadro só vive graças àquele que o contempla”.



Picasso apenas escreveu sobre seu modo de pintar de maneira geral, explicitando certos anseios, idéias sobre a arte, mas não especificamente sobre suas fases e transformações – afirma simplesmente que coloca nos seus quadros tudo o que ama: “Tanto pior para as coisas; tudo o que elas têm a fazer é arranjar-se entre si”. Desse modo, embora não possa aplicar efetivamente um contraponto entre as proposições do artista e a maneira pela qual essas proposições foram materializadas, fica claro o estímulo das obras de Picasso para lançar-nos a novas sensibilidades, construindo olhares capazes de reconhecer justamente na diferença com o “mundo visual”, as “verdades” do artista, a pluralidade de faces das coisas, dos objetos, dos espaços, dos rostos e até do tempo: propunha uma pintura não só com partes objetivamente visíveis, mas também com a interação da consciência... Num fluxo contínuo de criação, representação e recepção inextrincável que se modifica e se renova como o rio, como a vida.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A mise en scène

de cinema é o que não se pode ver. Tratamento dos corpos no espaço, sem gesticulação. Questão de centro, de relações: encarnada em uma deiscência, como quer a "mizankadr" eisensteiniana, em uma ocupação, uma medição febril do espaço, como em Rivette, em uma tomada de possessão mais autoritária e mais pacificada, como em Straub...

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.163

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mas o essencial,

é claro, é que o trem continua a ser o lugar prototípico onde se elabora, em pleno século XIX, o espectador de massa, o viajante imóvel. Sentado, passivo, transportado, o passageiro de trem aprende depressa a olhar desfilar um espetáculo enquadrado, a paisagem atravessada. A experiência das primeiras viagens de trem é suficientemente nova quando aparece o cinema para que, por exemplo, a descrição da experiência espectatorial no famoso livro de Hugo Münsterberg, em 1916, evoque, infalivelmente, os testemunhos de viajantes do século XIX. A similitude, no mais das vezes realçadas. vai bem longe: trem e cinema transportam o sujeito para a ficção, para o imaginário, para o sonho e também para outro espaço onde as inibições são parcialmente sanadas.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.53




TURNER, Joseph Mallord William
Rain, Steam and Speed The Great Western Railway
before 1844

Função do olhar,

nessas nuvens e nesses arcos-íris, nessas grutas, ravinas e arvoredos, pintados em grande número por volta de 1800: se a visada é uma reprodução escrupulosa do mundo natural como teatro de fenômenos efêmeros, precisa-se aí de uma acuidade do olhar, mas também de um desejo de investigação e de descoberta. Olhar a natureza "tal como ela é", isso se aprende. A questão não é a de uma objetividade qualquer: nada mais irreal, em certo sentido, do que os arcos-íris de Constable, as nuvens de Dahl ou Delacroix, para não falar de Turner. Mas, nesse esforço para apreender, a um só tempo, o momento que foge e compreendê-lo como momento fugidio e qualquer - para se livrar do "instante pregnante"-, o que se constitui é o ver: uma confiança nova dada à visão como instrumento de conhecimento, e por que não de ciência. Aprender olhando, aprender a olhar: é o tema, também gombrichiano, da "descoberta visual por meio da arte", da similitude entre ver e compreender. O tema do conhecimento pelas aparências, que é o tema do século XIX, e o do cinema.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.51





CONSTABLE, John
The Hay-Wain
1821

terça-feira, 28 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sonhos



Imagem sonho já que a palavra não é suficiente.
Quando não temos pra onde ir.
Quando a existência é insondável.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Tudo o que amo

Que triste sorte para um pintor que gosta das loiras, mas que se proíbe de colocá-las em seu quadro porque não se harmonizam com o tapete! Que miséria, para um pintor que detesta as maçãs, ser obrigado a utilizá-las o tempo todo, porque se harmonizam com o tapete! Coloco nos meus quadros tudo o que amo. Tanto pior para as coisas; tudo o que elas têm a fazer é arranjar-se entre si. (Picasso, 1935)




Picasso, Girl asleep at a table, 1936

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Não sei,

é como se fosse possível usar o silêncio para falar de tudo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Momento num café

Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição.


Manuel Bandeira

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O imortal

Estava atirado na areia, onde desenhava grosseiramente e apagava uma fileira de sinais que eram como as letras dos sonhos, que se está a ponto de entender e logo se juntam.


J.L.Borges

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dia das mães

F: Vou fazer omelete para o almoço, tá?
E: Mas logo hoje?
F: O que que tem?
E: Hoje é dia das mães...
F: Mas o que tem a ver os ovos com o dia das mães?
E: O ovo é o filho da galinha, né.



:D

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ao pé da letra

Enforcar-se é levar muito a sério o nó na garganta.


(Quintana)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Estrondo

De imenso que sinto
queria conseguir
um só pouco do tanto,
do tanto que respiro.

Não apenas cinemas
ou vinagres poemas:
uma espécie de lugar
de estado ou ânsia.

Como saber ser capaz
de qualquer infinita
coisa?

Explodiu o meu redor.
Senti o gosto amargo
no peito.

domingo, 15 de março de 2009

O que tem dentro?

Nervos, músculos
sangue, poesia?

Quem matou?
E a pessoa agora
sem pulso?

Quem tirou teu alimento
tua música
teu toque?

Ouve... Lá fora uma canção
que nada tem a ver contigo.

Tudo me faz lembrar-te.


Morrerei de mim.
Assassinada.
Estuprada.
Torturada.

Sem ordem
sem fim.

Diariamente...

quarta-feira, 11 de março de 2009

Soa

desleixo, desinteresse.



A sede é que está impossível.

terça-feira, 3 de março de 2009

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Aniversario na lavanderia

A vida é dura.






E por aqui vivem dizendo que o Erick parece o Obama....

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Living like a mexican

Trabalhando como mexicanos, comendo como mexicanos.

So nao dormindo porque a casa eh mesmo muito boa. O problema eh que ficamos tao cansados que nem da para aproveitar.

E tambem nao conversando como mexicanos porque nao sei uma palavrita em espanhol.

Estou morrendo aqui.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Gosto

dessas descobertas vegetarianas: Adriana Calcanhotto e Clint...

:)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

sobre O Ensaio... e a chuva




talvez a diferença esteja no fato de não estarmos ainda completamente cegos...

(ou a semelhança seja estarmos...)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O garoto dos óculos escuros

O garoto dos óculos escuros
o usa o dia inteiro
porque o sol não suporta
e as estrelas o chateiam.

Um dia lhe perguntaram,
seus colegas insistiram
e num jogo de criança
não acreditaram no que viram:
nos óculos do garoto
descobriram seu segredo:
eles eram os seus olhos,
não era um brinquedo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O menino deprimido

O menino deprimido
sabe de cor e salteado
o formato das unhas do seu pé.

Passa sempre despercebido,
e sonha noite e dia
com a moça sorriso
pra levar sua agonia
e lhe fazer um cafuné.


domingo, 23 de novembro de 2008

As cidades e os olhos

para Calvino

Quem se aproxima dessa cidade durante o dia, logo é induzido a se perguntar quanto às exaltações da noite, desenhadas nas janelas fechadas, no silêncio, no segredo e no sossego dos resquícios derramados nos caminhos agora claros.

Gilberta não é uma cidade dos pecados. Mas uma cidade onde o dia finda a vida e a noite atrai e dissimula os habitantes que preferem sonhar enquanto o sol aquece seus telhados, para que não sintam falta de serem eles mesmos, de inscrever os sentidos uns nos olhos no corpo no quintal do outro.

As janelas vão se abrindo à medida que o ar perde o brilho e o sentido implora olhares. Jogos de sedução acontecem num mergulho dentro de cada habitante: as crianças se completam na infância da noite, procurando as estações nos olhos dos cães, descobrindo a gravidade do mundo disfarçada de encantamento. As famílias atravessam a ponte, conversam alto e trocam ardores apreendendo a folia prestes a transbordar pelos poros da pele.

A noite é como uma promessa solene de viver para algo. A noite para os moradores de Gilberta é sempre mais, é um pouco mais outra coisa. Os olhos deixam de julgar e de saber para que a intenção do interior guie ao que não se pode ver, ao que pode tanto ser música quanto elegia, tanto brinquedo quanto revelia.

Antes do amanhecer, quando voltam pra casa e procuram-se no espelho, percebem-se preenchidos. A maquiagem borrada, os odores baralhados, as roupas sujas e faltando dão a certeza dos encontros, a condição para mais um dia de sono, o alento para a próxima noite de existência.

Noticiário

Falam no jornal sobre uns assassinatos coisas que logo são esquecidas é óbvio e sempre assim. Não ele nem ligava pro noticiário mas gostava de ver a boca da moça falando mexendo falando o nome dele por que não, chamando pra perto pra jantar e pra outras coisas falando... Desligou pegou uma cerveja tirou o tênis sentou no chão e ficou pensando na morte. Saiu de casa olhou para a vizinha pegou o ônibus comprou cigarro molho de tomate graxa de sapato. Andou pensando bosta de vista por que eu não ganho na loteria? Jogou no bicho voltou pra casa tomou banho.

Ligou pra filha brigou com ela mandou estudar para não ser burro e sozinho como ele. Lembrou da infância, ligou a televisão esperando a previsão do tempo. Falaram frente fria pensou nos mendigos teve pena.

Comeu macarrão fumando balançando as pernas pensando em mulher.
Sossegou, pensou nas dívidas, esqueceu-as, dormiu, sonhou com insetos, acordou comeu macarrão no café saiu pra procurar emprego ficou com raiva saiu correndo foi atropelado. Apareceu na tevê.

domingo, 16 de novembro de 2008

Gerações

Era algo constante nas manhãs de terça-feira o seu bichinho de pelúcia preferido acordá-la num processo de quase estrangulamento. Sempre despertava a tempo de tirar as patas do bicho do seu pescoço e trancá-lo dentro do armário junto com seus outros bichinhos de que gostava menos. Uma hora depois, quando ele já tinha se acalmado, ela o tirava com esforço de lá e o punha novamente em cima de sua cama. Nunca conseguiu entender qual era a desse bichinho, mas com ele aprendera a respeitar as diversas formas de vida e de temperamento, então tudo bem, ela compreendia a importância.

Se ela via televisão com ele principalmente nas quintas-feiras, ele logo dormia. Talvez fosse justamente na quinta que ele tivesse os sonhos mais perturbados e por isso precisasse dormir mais durante o dia. Era só uma suposição na cabeça dela, já que por mais que tentasse não conseguia saber o que aquele olhar queria tanto dizer. Pensava em inventar um tradutor, um decodificador, um neutralizador, um liquidificador e outras coisas que só uma criança com um bichinho de pelúcia é capaz de pensar.

Certo dia ganhou uma bicicleta. Achou mais divertido que o bichinho de pelúcia e o guardou para sempre junto com os outros de que gostava menos. A bicicleta era o sinônimo de sua liberdade infantil, sua conquista secreta do mundo e das coisas. A bicicleta vermelha não era muito de conversar, mas às vezes percebia que ela tentava puxar assunto e então conversavam sobre a qualidade do asfalto, das lajotas, do barro e da dificuldade de andar na grama. Os assuntos da bicicleta eram só esses. Talvez nunca tivesse olhado para o céu, visto um passarinho ou um relâmpago. Talvez não tivesse nem pegado chuva.

Mais ou menos um ano depois ganhou um computador. Depois disso não conseguiu mais entender como algum dia pudera gostar de um bichinho de pelúcia estrangulador ou de uma bicicleta vermelha entediada. Com a internet ela podia conversar com todos os bichinhos de pelúcia e bicicletas do mundo, não havia limites, podia até ser criança pra sempre se quisesse. Então passou anos fixada nesse outro mundo, compenetrada, maravilhada, desencantada, feliz, triste, excitada, tudo podia acontecer agora. E ainda por cima ao mesmo tempo porque ela aprendeu a fazer muitas coisas juntas. Com o tempo, essa falta de definição fez com que esquecesse os dias da semana. Não se lembrava mais das manhãs de terça-feira ou dos domingos chuvosos. Não fazia diferença porque no computador era sempre o dia, o tempo, o clima que ela quisesse.

Foi basicamente isso que aconteceu. O bichinho e a bicicleta foram doados nessas campanhas do brinquedo, o bichinho deve ter descontado sua ira e estrangulado outras crianças, a bicicleta talvez tenha tido tempo de olhar para o céu e ter tido uma vida um pouco mais poética, enquanto a menina estrangulava e entediava a si mesma à medida que não percebia a passagem do tempo, da vida, do ciclo todo.

Talvez tenha morrido em frente ao computador. Ou tenha conhecido alguém na internet e tido filhos de verdade ou virtuais mesmo. Talvez tenha até ido ao enterro de sua avó por e-mail e comido os biscoitinhos do velório por transferência de arquivo. Não se sabe.

O filme é um lugar

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Algo para pensar...

A arte é inofensiva.

Papo de terça-feira de manhã

- Fabiane, aquele pássaro cidadão que você falou, tá fazendo ninho por ali...!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Não mais

Não mais poemas
sobre árvores
ou céu.

Não mais os dias
como infância
e sol.

Restaram-nos os retalhos
de ontem,
o traço de amanhã.

Carcomido, pouco diz
o relógio
- parado.

Tão perdido
quanto as horas
- nossas.

domingo, 28 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Elegia

Minha vida é uma colcha de retalhos
Todos da mesma cor...


[Quintana]

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

2 anos, 2 meses e 2 dias

E umas frases dele de hoje


"O pior é que nem adianta construir um banheiro público pra cachorros. Eles não entendem".

"Vai ler o jornal de ontem, Amor?"
"A Folha de S. Paulo de ontem é melhor que o Diário Catarinense de amanhã".


Esse carinha... (:

terça-feira, 2 de setembro de 2008

sábado, 30 de agosto de 2008

Bazin

Eu: Merece um beijo quem passou esse livro pra .pdf.
Laura, que sempre quer um beijo: Fui eu!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

I'd like...

Queria morar num sótão.
Com cheiro de madeira vermelha
um violão preto e branco
um cinema na janela
uma máquina fotográfica moderninha
e tal.

Um sofá com
almofadas azuis.
Uma mesinha com
café saindo fumaça.

Fotogramas em porta-
retratos na parede
e fotos pouco elegantes
de viagem.

Bolsa amarela
roupas aminhacara
sapato de crochê.

Livros para comer
cookies para comer
computador para conversar.

Música
e perfume de
lugar alado.

Mãos dadas
e dois pares
de chinelo.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Plagiando

"Eu gostava dele porque era ele. Porque era eu"


:)

sábado, 12 de julho de 2008

Dor

Parece que ela carrega a dor da casa... :~


domingo, 29 de junho de 2008

A Ruiva

Costumava ser gordinha quando criança. Ruiva, gordinha e tagarela. Depois cresceu, continuou ruiva, mas emagreceu e se fechou como uma ostra. Sempre morou com a mãe, nunca ouviu falar do pai. Tornou-se tímida quando se apaixonou pela primeira vez, aos 11 anos. Percebeu que as coisas eram mais complexas e inapreensíveis do que a perspectiva plana que até então apreendia na sua vida.

Aos 15 começou a trabalhar. As notas na escola caíram, mas precisava ajudar sua mãe que não dava conta de sustentar a casa e seus pequenos luxos adquiridos de tanto ver novela. Rúbia não ligava para as cores da moda, os novos penteados ou a programação na tevê. Na verdade não se interessava por muitas coisas e embora já tivesse 24 anos, ainda não sentira o palpitamento da vida, algo que pudesse fazê-la transbordar de vontade de alguma coisa.

Já teve um ou outro namorado (ao contrário da mãe que tem um diferente a cada lua). Namorou um vizinho que a traiu depois de quase um ano juntos. Ela não o culpava. Sabia que faltava cor nos instantes, sabia que parecia mais morta do que viva quando estavam na cama.

Não tem memórias da infância, não tem fruta preferida, mas gosta do cheiro que o sol deixa nas suas roupas surradas. É muito bonita, sim. E agora, assim cedo, está no ônibus para mais um dia de trabalho.

Rua das Carambolas, o mesmo número 127 há dois anos. Procura a chave na bolsa, limpa os pés, respira fundo, abre a porta. Começa lavando a louça, prepara o café, arruma a mesa até ouvir os gritos habituais e se dar conta que Dona Lídia acordou e desesperadamente chama por todo mundo. Como se fosse um fantasma, deixa tudo arrumado e, imaginando como acabar com as formigas, dirige-se a outro aposento, para lavar roupas.

Mais fotos de garotas nuas no bolso da calça de Seu Moura. Mais uma vez o sentimento de não saber o que fazer com elas. Desajustar tudo mais ainda mostrando à patroa? Jogar fora e admitir-se cúmplice daquele cotidiano corrupto que entranhava nas paredes? Por alguns segundos pensou em como seria ser fotografada nua.

Encarar o dia como só mais uma segunda-feira. Outro dia morno, enjoado, empedernido. É etéreo tudo aquilo que não tem. Tudo aquilo que não descobriu em si mesma. Deveria tomar remédios como Dona Lídia? Enlouqueceria também? Juntaria todas as desilusões a acreditaria nas pílulas para dormir, acordar e, supostamente, sobreviver?

Era uma segunda-feira como as outras, mas sentiu uma irrupção distinta. Como o nascimento de uma natureza mística, metade Rúbia, metade música. Ou metade rotina, metade desprendimento.

Teve uma súbita vontade de ir ao quarto da Natália, pedir para que fugisse daquela casa, que fosse morar com ela, porque ainda era nova e poderia salvar-se da loucura. Precisava mesmo fazer alguma coisa. Não suportava lutar com suas entranhas ao constatar que a pequena chorava escondida. Podia não saber de moda, podia não se encontrar em si, não se entregar numa paixão. O que não podia era deixar escapar aquele momento.

...

Inebriada, nada fez. O momento passou e a vontade escorreu tornando-se apenas um contraste naquele dia estranho. Por que tanto envolvimento? Não tinha sido contratada apenas para limpar, lavar, cozinhar, não falar e desaparecer? Um calor envolveu-a. Prendeu os longos cabelos em um coque, olhou para os lados e atentou para aquela casa aos seus cuidados. Conhecia todos os aromas das pessoas, que sentia ao passar roupas. Conhecia os remédios no armário do banheiro, as fotos que sugeriam traição, as lágrimas apagadas da filha incompreendida, a preferência da comida, a marca da ração do cachorro, a quantidade de sabão para lavar os tapetes caros... Como se desenlaçar de um dia-a-dia que não lhe pertencia e ao mesmo tempo a envolvia de tal forma que resultou num reconhecimento próprio?

...

Alguém apagou a luz. Ela reconhece aquele cheiro. A porta se fecha. Ele se aproxima, ela não quer. Ou quer. Não poderia porque não gostava disso e não gostava dele e não queria nem pensar nas ininterruptas loucuras de Dona Lídia, caso ela descobrisse. Ele a empurrou para um canto entre a parede e a máquina de lavar que enxaguava a roupas. Fugir daquilo seria fugir de tudo. Não sabia o que seria. Fechou os olhos, ficou na parede, aceitou. Pensou na sua mãe, nos gritos do quarto, em vitrines empoeiradas, nas fotos do Seu Moura, ali na sua frente. Nem sabia como ele não a tinha interceptado antes. Antes ela fugiria, gritaria, morderia. Agora ela deixa, sua, geme, treme, quer. Aquele ambiente a teria mudado? Ele teria percebido?

...

Baque. Sentia-se infinitamente disposta a pedir as contas, a trabalhar em um supermercado, a economizar e comprar uma máquina fotográfica.

...

Na verdade não sentia. Ainda queria salvar Natália, ainda queria ir aos cantos furtivos com o patrão, ainda queria ficar lá e molhar a samambaia. Da falta de vida, fez-se a vontade de tudo ao mesmo tempo.

...

Hiatos. Horas comuns por não saber, já libertada de si, o que percorrer. Pensou em pintar o cabelo. Pensou novamente em tirar fotos sem roupa, mas agora também queria que elas estivessem no bolso de Seu Moura.

...

A pequena passou correndo na cozinha e foi para o quarto. Era o momento de ir até lá e tentar colher uma compreensão, um sorriso. No meio do caminho alguém a segura pelo braço. Mas de novo? Só que agora na cama do próprio, já que Dona Lídia havia saído para umas compras e ele decidira chegar mais tarde ao trabalho para alguns minutos de potência máxima.

Noite. Na cabeça, excertos do dia. Na pele, a inatividade morta, o suor da dúvida, o cheiro do novo. Ainda fechada em si, mas expandida no mundo, era o que sentia. Continuaria no emprego? Absorveria tudo daquela casa ou se procuraria em outras coisas? Estaria ficando parecida com sua mãe? Estaria cada vez mais diferente? Estava decidida: no dia seguinte pagaria alguém para tirar fotos suas com pouca roupa, sem roupa, sem vergonhas nem tremulações.

Olhava-se no espelho, nua, procurando os defeitos de seu corpo. Seios talvez pequenos demais, mas ela concluía gostar assim, e os segurava levemente como que para ter certeza que aquela beleza era sua. Via sua pele muito branca, mirava-se de lado, procurava curvas, formas que ainda não conhecia, pensava nas fotos e perguntava-se como que agora, dentro de si, cabia tanta coisa.

Lembrou-se de Natália, imaginou Seu Moura e Dona Lídia na cama. Ela louca, ele também louco, só que por outra coisa. Aí acabavam não fazendo nada. E também aquela casa não significava nada. Reflexo dos dias doidos, filhos não planejados, carinho não dado, comida sem gosto, roupas úmidas, arrependimentos, coisas para organizar, coisas para amar, animal de estimação esquecido, dinheiro esbanjado, colégio particular etc. Isso só para simplificar. Lutava consigo, pensava coisas aleatórias, queria comprar lingeries e uma barra de chocolate. A roupa por fora não importava, só importava a que seria vista por poucos.

A mãe bate à porta. Filha, você chegou tão diferente, aconteceu alguma coisa? Não, mãe. Eu só me confundi. E dormiu.

Sonhou ser fotografada nua e em preto e branco. As fotos estavam nos outdoors da cidade. Todos viam seus seios, seus pêlos, o contraste habitual de sua pele. Homens e mulheres desejavam-na, queriam fazer fila, mordê-la. Então, em meio à multidão, aparecia Natália estendendo a mão e pedindo baixinho que ela fosse sua mãe.

Rúbia acordou ainda atordoada, olha o relógio, veste-se, prende os cabelos. Vai à parada e sente-se incapaz de entrar no ônibus de sempre. Senta no meio-fio e espera. Como se Natália fosse buscá-la e fazê-la salvar-se de si mesma.

sábado, 21 de junho de 2008

Perdona

- Mana, tu é uma perdona.
- Isso não extiste, Laura...
- É uma perdona porque perdeu a sua chave.



!

Uma dose de Manoel, S'il vous plaît

Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.


Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.


Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembraça revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.



[Fragmentos "Livro sobre nada", de Manoel de Barros]

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Um olhar infantil sobre o cinema

Laura: Fazer cinema é o mais ruim, porque tem que ficar vendo filme e não pode trabalhar.




!!!

terça-feira, 3 de junho de 2008

"Assim,

a melancolia é a mais legítima das tonalidades poéticas".
(Poe)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Interessante exercício de fotografia...

[Foto: Alfred Stieglitz]



Só falta...

A personagem não morreu porque, na verdade, ainda não nasceu.
Eu já morri porque não tinha nascido direito.

Agora falta o veneno parar de funcionar...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Ponto.

Respirar. Um passo. Expirar. Um passo. A cada movimento das pernas, um nó. Mais um passo, mais outro nó. Um passo para trás na tentativa de desfazer o aperto. Nada feito. Voltar atrás não muda o curso dos pés, o passar das horas. Pular. Descarregar o peso no chão de descaso. Bater, bater, gritar. Procurar a estrada que não há. Que nunca houve. Que os sonhos se encarregaram de trazer. E depois matar. Céu, pernas, mundo, lixeiro, lâmpada, desordem. De quem são as vozes? Quem me puxa? Não há fio condutor. A respiração é arquitetada. O segundo seguinte não diz nada.

domingo, 25 de maio de 2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Essa ausência que me mata,

a da Poesia

.


Eu acabo com os personagens
as histórias
as idéias
em cada instante de falta.

Eu acho que morro.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Férias

Laura cantando e dançando feliz da vida:

"Abra suas asas, solte suas férias..."

(E ai de quem disser que não é assim...)

A Lua e a Tabacaria

Ontem, olhando para Lua, tive a mesma sensação de quando, também ontem, reli a Tabacaria. Aquele sentimento de gigantamento, de não-caber, de supremo, de infinito, de completo incompleto. Céus! É encantador...

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

sábado, 3 de maio de 2008

Fica...

Seus olhos preocupados,





distantes.

Sinto-me confusa,
não fazem parte de mim.

O que fazer para alcançar?
Para te trazer dentro da minha morada?
Por que não vens por completo?

...


Aceita meu convite,
abre minha porta,
senta na cadeira que é só tua.

Fica para um café,
uma conversa,
uma noite,
Uma Vida...

domingo, 27 de abril de 2008

Detalhes sobre o tempo

- Tenho tanta coisa pra fazer, mas o tempo voa!
- Como assim o tempo voa?
- Passa muito rápido, Laura.
- Ah, Fabiane, o tempo não é meu...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Sabe...

- Sabe do que eu também gosto com a aproximação do inverno?

- Hm?

- Desse cheirinho de frio, igual ao do dia em que nos conhecemos...

- :)


segunda-feira, 24 de março de 2008

Passa tempo

Ainda há tempo
de inventar o poema?

Lá fora os outdoors batem à porta:
estou atrasada.

O mundo gira
os carros correm
as pessoas voltam
as janelas fecham
o lixo se acumula
e a realidade, impassível,
não desiste de sua sina,
triste,
quase imperceptível
(de tão diária, de tão comum...).


terça-feira, 11 de março de 2008

Cena do dia - Parte II

Três crianças subindo o morro usando uma telha como improvisação de guarda-chuva.

Cena do dia

Velhinha corcunda levando um carrinho de bebê... com uma caixa de cerveja dentro!

segunda-feira, 10 de março de 2008

Medos públicos

Enquanto caminhava, havia na minha frente uma criança (no colo de alguém, provavelmente seu pai) que olhava insistentemente para mim. De cima a baixo! Tentei olhar várias vezes com aquele sorriso no canto da boca. Nada. Ela continuava a olhar, olhar, olhar, sequer ousou sorrir. Não sei se ficou hipnotizada pela camisa xadrez, mas fiquei foi com medo dos seus pensamentos vidrados. Eu me afastei, esperava alguém. A criança, cega de determinação, deve ter olhado até o xadrez virar uma cor só, e então eu parecer um borrão...

Hoje também senti medo de envelhecer.

Sentir

Ela sente falta da simplicidade. Precisa das coisas exageradamente simples como cheirar fundo pra reter o perfume de dama-da-noite, como um carinho de madrugada, como aquele cachorro dormindo no sol ou a digestão de uma boa história. Simples como a poesia que encanta, o Quintana que conta, canta...




Sonho

Sonhei que o mundo estava contaminado por uma doença fatal e só estavam salvos aqueles que já tivessem lido Saramago. Só pode ser um sinal...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Estrelas


A garota usava tênis de quadrinhos.
O garoto balançava as pernas, olhava para baixo.
A garota, sentada na grama, comia goiabas recém colhidas.
O garoto observava as crianças soltando pipa no parque.
A garota pensava em ir ao cinema quando escurecesse.
O garoto esperava escurecer para ver estrelas.
A garota tinha um bloquinho onde escrevia imaginações.
O garoto imaginava a garota.
A garota escrevia o garoto.

Imaginavam.
Sonhavam.
Escreviam.
Balançavam.
Pensavam.

Já Viviam um do outro, já nos sonhos, já nas Almas que ainda não tinham se encontrado, mas que já se sabiam.

Bastava ela olhar para o lado...
Mas foi mais. A garota e o garoto olharam para a mesma estrela...

(06.09.07)


terça-feira, 1 de janeiro de 2008

2007

Talvez seja melhor indispor os planos, consultar as fotografias, reler os poemas, procurar luzes dentro da terra. Depois de um ano assim sem referências, assim apaixonado, assim assim de todo jeito indizível, inesperado e tão cheio de decisões, começo o ano sonhando com sobremesa de banana e passando roupa em um dia nublado de verão. Contabilidade? 16 livros, 90 filmes, Brasília, Rio de Janeiro, Paraty, Los hermanos, Pirinópolis e baratas, Laura fazendo piadas, Namorado que se tornou vizinho, momentos de vestibulanda, bolsa de extensão, congresso de jornalismo científico, desistência de ser jornalista, transferência de curso, cinema, tartaruga machucada, lagartos no quintal, sítio, ovos e leite, meu primeiro "livro de poemas", vontade de ver pato fu, de mudar a cor do quarto, de dizer um milhão de vezes que tenho o melhor Namorado do mundo, saudade, distância, falta de palavras, de disciplina, calçados que não duram, suco do márcio, tigelas de açaí, terapia, computador só pra mim, livro de fotografia, filmes comprados na promoção, boletins de rádio, apresentação de tele-jornal... Juntar tudo e misturar bem: linhas e curvas de um ano que passou, de cheiros por aí, de cores de filme, de vôos nas palavras, de dúvidas, de mudanças, de coisas que compõem os cantos, encantos, sonhos, acasos e futuro que não dá pra saber.

Enfim, sopro de começo de outro ano. Da continuação do que parece acabar, mas que faz parte das lembranças, das comemorações, dos sussurros, do perfume da Vida...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Branquinho branquinho

Dia bem segunda-feira.
Chuva, frescor e céu branquinho branquinho que dá até vontade de virar de cabeça pra baixo e desenhar nele.

Segunda-feira e aquele sentimento de não caber em si. É preciso esticar a Fabiane. Fazer com que ela caiba em seu mundo, em seus desenhos, sonhos, vontades, leituras e poesia de filme.

Segunda-feira e vontade de comer doce. Morder fruta moderna, comer livros com gosto de abacaxi! E quem sabe segurar um cheiro de bolo quente vindo do forno.

Chuva que faz lembra o inverno, as histórias e canções inventadas debaixo de um cobertor quentinho com os dedos empoeirados do sal da pipoca.

Cheiro de molhado, de borboleta escondida. De grito, de sussurro, de canto, de conto, de lado, virado, disforme. Como num pulo para o céu ao encontro dos poemas nas nuvens...

domingo, 16 de dezembro de 2007

Quadrinhos

É. Eu não sei desenhar.
Mas sei ideiarar...

(E até tentar encriançar o mundo. Por que não?)


Línguas

- Eu sei falar espanhol, português e matemática...




;)


grande Laura

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Creminho

Eu: É, estou parecendo uma bola...
Laura: Não! Está parecendo um creminho! (abraço)

(carinhosa maneira de falar das minhas gordurinhas... ;)

---

Cenas de hoje:

1) Carro vermelho estacionado debaixo de árvore com flores vermelhas. Flores no chão, combinando com o carro...

2) Ninho de passarinho em cima de um suporte de lâmpada, na parte externa de um prédio da universidade. Detalhe para o pouco espaço entre o suporte e o teto: o inusitado que faz sorrir...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Paladar

Tem gosto de idéia,
de geléia
de goiaba.

Vi gota
na ponta da caneta:
e na ponta do pensamento,
vento.














flickr: brunomiranda

domingo, 2 de dezembro de 2007

Vontade de inventar histórias

Memórias, olhares, pensares...
O que sonha o personagem que ainda não foi criado?
Será que vê estrelas?
Ou só nada entre imaginações esperando emergir na criação?
Seus passos, antepassos, lágrimas... são audíveis?

Em mim, borbulham.
Não sairão ou surgirão agora...
É como se se preparassem para pular:
saltar de pára-quedas no não-saber,
alcançar os percebimentos do redor,
do que contamina os sentidos por míseros momentos
e consegue encher um pouco o que todos temos de vazio.

Mal respiramos e vai embora.
Enchemo-nos com a falta de novo,
à espera de outra história
para amornar o medo de não entendermos
o esquisito rumo em que estamos...

---

Ele agora vê que o tempo é uma ilusão
E o passado são as linhas em suas mãos
Ou não, ou não, a vida é muito mais
Que os dias, que os deuses, que jornais

(A verdade sobre o tempo - Pato fu)

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Durma, medo meu...

E nos esquecemos da cor que tinha o céu, assim
como a saudade
ou uma frase perdida...

Durma, medo meu,
durma, medo meu...

fotolog.com/kmilart_






quinta-feira, 29 de novembro de 2007

sábado, 17 de novembro de 2007

Incessante

Ímpeto de poema:
a confusão também precisa
ser escrita.

Viver lá na frente
como quem só sonha.
Desperceber a flor,
configurar uma rotina
que não é tão sua.

Abraços,
- quero todo o tempo.
Fugir do resto,
do inapoemável.

Aonde chegaremos?
Por que não
no sofá?
Por que não
na lembrança
de quando tanto imaginamos?


Sendo.
Sem saber muito bem o quê...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Fotografando, amando...

Saudade de Você tirando fotos minhas...

Vamos um dia passear por aí
atrás do perfume de fruta doce?

Amar em cada segundo
o falar secreto,
a ânsia exposta
nos olhos apaixonados
de ver o Mundo Nosso
vivendo de infinito.

-Clic!
Foto do Mundo.

-Clic!
Foto de Uma Vida.

-Clic!
Foto de imagem e sonho que não param.
Mistura de cores, brilhos, mistérios...

-Ficarei ao seu lado pra sempre!
-Clic!

- Vamos colar nossas fotos pela casa? O álbum sufoca os sorrisos...
- Clic!


Paraty, RJ
Foto por: Ele S2

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Assim sem saber sentir...

É um lado ou é o outro?
Por que o aqui parece tão longe?
Irresponsabilidade?
Riscos? Provas?

Olhos cerrados,
buscando.

Perante a chuva
aflora o medo
de tudo.

Tanto que não entendo,
que não consigo abraçar...

Assim sem saber sentir...















(fotolog.com/kmilart_)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Javalia

"Tem uma sobrancelha no meu olho." Laura, 15 de agosto

Mãe: Laura, contou pra mana o que tinha no sítio dessa vez, que você queria trazer pra casa?
Fabrício (metido): filhote de javali!
Laura: Javalia! Porque era mulher...



;)

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
é condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

(Florbela Espanca)


Desenho: fotolog.com/kmilart_

sábado, 13 de outubro de 2007

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Quero...

Quero compor músico do dia.
Prato, poema, pulo, percepção.

Não entender,
não saber,
não desenrolar.

O que há entre as Almas?
Do que depende a dor?


Atam-se as mãos.
Não podem ficar
um minuto longe.
Propoem-se ao risco
do sonho
de construção
do inominável.

Sopro.
Cheiro.
Calor.
Gosto.

E um pouquinho do silêncio nosso

(que diz tudo).


(gatinho em homenagem ao Amor...)

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A hora da estrela...

Ela está pronta
pra mudar a sua vida pra sempre.
Já imagina
como tudo vai ser tão diferente
e aquele lugar lá na frente
vai ser seu.

Mais um minuto
e tudo o que sonhou vai ser verdade.
Não há no mundo
quem não entenda a sua felicidade
que possa dizer com certeza
que o lugar é seu
que é de quem nasceu pra brilhar.

A hora da estrela vai chegar
agora ninguém vai duvidar
não hoje, não mais
nem nunca, jamais.

Ela está pronta
pra mudar a sua vida pra sempre

(Pato fu)


sábado, 22 de setembro de 2007

Plantando...

"Eu me dou ao luxo de fazer algumas coisas (ecologicamente incorretas) porque posso plantar as 700 árvores que preciso para despoluir tudo o que poluo".

Wanessa Camargo, cantora recém-nomeada "embaixadora" de uma ONG que defende a Mata Atlântica, explicando sua filosofia ambiental.

(Época, 17 de setembro de 2007)



Nada como ter a consciência limpa!!



sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Percebi que a Joaninha é também poeta (além de jornalista, atriz e outras coisas incríveis que só ela sabe ser). E viu encanto na Borboleta, ainda que sem vida, na calçada em um dia chuvoso...

Joana:Hoje eu estava andando na rua e lembrei de você.

Vi um borboleta morta na calçada.
Ela era preta com detalhes cor de rosa nas asas.
Preta, como se desde quando deixou de ser lagarta estivesse pronta para aquele momento.
Mas manteve os detalhes cor de rosa da menina, doce sonhadora e bailarina- naquele tom que um dia comentamos usar exageradamente em alguma fase tola da adolescência.
Por onde teria voado?
Agora estava ali em toda sua elegância e suposta irrelevância.
Uma borboleta preta morta na calçada.


Lembrei de você não porque era morta.
Mas porque era borboleta..

Com detalhes cor de rosa.

Como...

Como poemar folhas amarelas ao chão?
Ou flores rosas também caídas por conta da unânime chuva?

Papel não tem resposta.

As mudanças roubam minhas palavras. Mudei até de penteado!
A poesia não mora mais tanto em mim: passa a noite cada vez mais raramente, passa o dia em escassas percepções.

Mundo, mundo vasto mundo...
Mais confuso é o meu coração...

(A Universidade estava especialmente bonita hoje pela manhã. Às vezes por conta da chuva, não olhamos muito para os lados. Acontece que a força da água derrubou as folhas e as flores compondo um denso cenário em conjunto das poças, dos trovões, guarda-chuvas e pessoas apressadas indiferentes à singular beleza da precipitação....)








domingo, 9 de setembro de 2007

Mudanças...


Estes me parecem tempos de mudanças...

De blog? De curso? De sonhos?

Bem, aqui estou. Talvez em busca de uma nova fase e de novas percepções.
Preciso mesmo me sentir em tudo que faço...



















(Bonequinha de Luxo, 1961)